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Surgem novidades no horizonte das demências

"Saber de cor não é saber: é conservar aquilo que se deu a guardar à memória."

Michel de Montaigne


William Osler foi um médico canadense que construiu sua extraordinária carreira nos Estados Unidos. Foi um dos fundadores da Johns Hopkins, centenária instituição de saúde americana que até hoje funciona como um polo de cuidados e ensino médico. Osler foi um dos maiores clínicos da história, acreditava que a medicina só podia ser praticada à beira do leito, em contato direto com os pacientes, e sempre acompanhada de permanente leitura de textos médicos. Ele elaborou inúmeras frases que atravessaram os tempos. Em uma delas, afirma que “a medicina é uma ciência de verdades transitórias”. Sim, a incerteza está no cerne da prática médica.

Novos medicamentos para Doença de Alzheimer

Duas notícias veiculadas recentemente pelo Diário de Santa Maria chamaram minha atenção. Uma trata de uma nova classe de medicamentos aprovados para o tratamento da Doença de Alzheimer. A outra aborda a atenção clínica aos transtornos cognitivos. Nunca é demais reafirmarmos: a Doença de Alzheimer é uma das formas de apresentação das demências, provavelmente a mais comum.

A doença foi descrita pelo médico alemão Alois Alzheimer em 1906, após o estudo anatomopatológico do cérebro de uma paciente, Auguste Deter, que ele acompanhou durante a última década de vida dela. Alzheimer descreveu dois achados que denominou Placas Senis (formadas pela proteína beta-amiloide), extracelulares, e Emaranhados Neurofibrilares (formados pela proteína tau), intracelulares. A doença leva o nome de Alzheimer como uma homenagem feita por um grande psiquiatra, Emil Kraepelin, ao médico que a descreveu pela primeira vez.

Eliminar a proteína Beta-amiloide

Qual a importância disso? A maior parte das teorias causais da Doença de Alzheimer atribui a essas duas lesões à base patológica da condição. Elas se espalham pelo tecido cerebral, a partir do hipocampo, provocando as manifestações clínicas da doença. As drogas hoje disponíveis para o tratamento farmacológico do Mal de Alzheimer atuam principalmente nos desequilíbrios de neurotransmissores – em especial, a acetilcolina – ou buscam reduzir a apoptose (morte) neuronal. Pela primeira vez, uma droga atua diretamente na chamada “cascata amiloide”, promovendo verdadeira limpeza do cérebro em relação ao acúmulo de placas senis – que são tóxicas para os neurônios saudáveis, levando à sua morte.


A ideia é clara: a redução do número de placas senis – e, portanto, da proteína beta-amiloide no tecido cerebral – poderia ter impacto relevante na evolução da doença. Infelizmente, embora esse fenômeno tenha de fato ocorrido, e pequenas melhorias em subescalas de avaliação cognitiva tenham sido observadas, o impacto clínico foi pífio. Além disso, ocorreram graves reações adversas, como lesões específicas associadas à proteína amiloide no sistema nervoso central, chamadas ARIA (algo como “anomalias de imagem relacionadas à amiloide”), que se manifestaram por edemas e hemorragias em um número significativo de usuários – inclusive com dois óbitos. Soma-se a isso o custo astronômico, bem como as grandes dificuldades em sua administração e monitoramento. Isso faz com que esse grupo de fármacos ainda esteja muito distante da prática clínica cotidiana.


No entanto, sua aprovação pelas agências reguladoras – FDA nos EUA, EMA na Europa e Anvisa no Brasil – aponta que o Lecanemabe (Leqembi®) e o Donanemabe (Kisunla®) abrem novo caminho para o tratamento dessa doença que atinge de maneira avassaladora uma humanidade que envelhece rapidamente. Resta saber se sua tolerância a longo prazo e suas promessas terapêuticas se consolidarão como uma via segura e eficaz.

Maior facilidade no diagnóstico de dificuldades cognitivas em idosos

Um alento... Jovens pesquisadores brasileiros, vinculados à Faculdade de Medicina da USP publicaram, na edição do último 2 de maio do Journal of the American Geriatrics Society, um estudo que permite, com significativa acurácia, o diagnóstico de demência e de dificuldades cognitivas não relacionadas à demência em idosos hospitalizados. Com base em uma escala de avaliação clínica da demência, aplicada a 65 pacientes com média de 79 anos, demonstraram que o não reconhecimento de dificuldades cognitivas nesses pacientes foi reduzido de 70% para 2%! Esse dado reforça que uma avaliação precoce da cognição pode permitir ações preventivas e facilitar o planejamento de condutas futuras, potencialmente beneficiando esses pacientes no que tange a eventuais complicações, bem como ao seu posterior manejo.

Por um lado ou outro, as pesquisas avançam no estudo das demências – entre elas a Doença de Alzheimer –, abrindo novas perspectivas para quem convive com esse verdadeiro flagelo. O século XXI tem, como uma de suas características, o envelhecimento da população mundial. Boas notícias como essas – mesmo que transitórias – trazem alento à alma de nossa sofrida humanidade.


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