Controvérsias sobre nutrição enteral na velhice

Uma enorme controvérsia em Geriatria. Não só em Geriatria - na prática médica. Quando é indicada a dieta por sonda enteral (aquela que entra pelo nariz do paciente) ou gastrostomia (aquela que é implantada diretamente no estômago da pessoa)? A administração de dietas enterais revolucionaram a nutrição em pessoas com dificuldades para se alimentar por via oral. Existem dietas específicas para diferentes condições clínicas. Mas elas estão indicadas em qualquer situação em que existe dificuldade de deglutir (disfagia) ou de alimentar-se nas quantidades adequadas? Em termos. Em se tratando de situações agudas, com possibilidade de recuperação, a nutrição enteral tem um papel essencial, na perspectiva da recuperação das condições globais de saúde, associada ao tratamento médico das condições clínicas "de base" e à abordagem multiprofissional. Porém, em situações de doenças crônicas, em fases avançadas, como as demências, câncer e outras doenças que levem à terminalidade, onde o foco é o suporte paliativo, o uso de dietas enterais é questionável. Ele não é isento de complicações.

Possíveis complicações da nutrição enteral

O risco de broncoaspiração permanece, tanto por refluxo como por aspiração de saliva (frequentemente colonizada); a ocorrência de diarreia não é incomum; a eventual necessidade de restrição física e consequente imobilidade e suas complicações: agitação, delirium (frequentemente manejado com drogas psicoativas) e lesões por pressão. Em demência avançada o uso de dietas enterais certamente terá impacto na qualidade de vida dos pacientes. E o impacto será negativo, na maior parte das vezes.

Alimentação de conforto

A introdução de "alimentação de conforto", com apoio da equipe multiprofissional - nutricionista e fonoaudiólogo, principalmente - pode ser a melhor alternativa. A ideia é manter a sacralidade do ato de alimentar-se, pois o mesmo implica em conexão, afeto e dignidade, aspectos essenciais em cuidados de final de vida. Para tanto é fundamental a cuidadosa informação da família, a consideração das diretivas antecipadas da vontade - se existirem, para a construção de um processo de decisões compartilhadas. As posições dos técnicos com frequência são ambivalentes e mesmo veementemente contrárias à uma abordagem mais conservadora - posições estas mais baseadas em crenças do que em evidências. O ideal é que estas reflexões e decisões se antecipem ao surgimento de uma situação clínica, pois as decisões tomadas durante uma emergência dificilmente serão as mais racionais. O diálogo é o maior alimento para a tomada de decisões relativas à nutrição enteral em Geriatria. Você já tinha pensado nisso? Se nunca pensou, talvez seja o momento de começar.