Delirium
- José Carlos Aquino de Campos Velho

- 14 de fev. de 2024
- 2 min de leitura
Delirium. Entidade clínica frequente em Geriatria. De manejo complexo e difícil. Assustadora para a família. Um pesadelo para a enfermagem e uma pedra no sapato dos médicos. Frequente em pacientes hospitalizados, mormente em portadores de demência e transtornos cognitivos. UTI, pós-operatório, infecções, doenças clínicas como infarto e acidente vascular cerebral são situações cuja expressão clínica pode ser o delirium.
Afinal o que é isso? Trata-se de um quadro agudo ou subagudo, manifesto por confusão mental, desorientação têmporo-espacial, flutuação do nível de consciência, comprometimento da atenção e alucinações. Chamava-se de "esclerose galopante", demência aguda e outros nomes. Uma questão pode ser daí extraída: o diagnóstico diferencial entre delirium e demência. O primeiro tem evolução aguda - horas ou dias. O segundo tem evolução lenta, com comprometimento gradual e progressivo das funções cognitivas - obedecendo à especificidades de acordo com sua etiologia - associada ao comprometimento da capacidade de lidar com as demandas do cotidiano.
Considerações clínicas
O Delirium implica em um substrato orgânico. Doenças clínicas, medicamentos, circunstâncias específicas em decorrência de hospitalizações como cirurgias ortopédicas de urgência e permanência em UTI, o delirium abre um amplo leque de possibilidades causais. Pode manifestar-se como delirium hipoativo, onde a apatia, a sonolência ou obnubilação são características predominantes ou hiperativo, onde inquietude, irritabilidade e agressividade podem estar presente. O delirium misto ocorre quando manifestações do delirium hiperativo e hipoativo ocorrem concomitantemente.
Diagnóstico
O Delirium exige um esforço diagnóstico significativo, uma abordagem multiprofissional, história acurada e exame clínico minucioso. O Delirium não pode prescindir de exames que possam esclarecer sua etiologia, inclusive imagem do sistema nervoso central.
Abordagem
A abordagem usual do delirium é o uso de neurolépticos e a opção por contenção mecânica - o paciente é amarrado ao leito, fato que só agrava a situação e pode levar à outros problemas clínicos. Ambas as atitudes são errôneas, mas compreensíveis: a maior parte dos hospitais e profissionais estão despreparados para enfrentar esta grave condição. O Delirium pode ser prevenido: a médica americana Sharon Inouie criou uma ferramenta chamada HELP visando sua prevenção, diagnóstico precoce e apontando possibilidades terapêuticas. É importante lembrar que as modificações ambientais e mobilização do paciente tem um papel muito relevante, bem com sua orientação e a tentativa de preservação do ciclo sono-vigília - além do tratamento da doença de base. O uso de neurolépticos como o Haloperidol pode ser necessário - judicioso, em doses baixas e por curto período de tempo. Deve tratar-se de uma medida complementar - estudos tem demonstrado a pequena diferença que o tratamento medicamentoso faz na duração e gravidade do delirium, podendo mesmo agravá-lo. Portanto o treinamento das equipes, inclusive médica, as medidas ambientais e o uso cuidadoso de medicamentos são algumas das alternativas. A contenção física deve ser utilizada como último recurso, somente quando a agressividade leva ao risco de agressão. A ideia da "Contenção Nunca Mais" é uma atitude a ser nutrida e disseminada, servindo como diferencial de qualidade nas instituições que a adotam.





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