Doença de Parkinson
- José Carlos Aquino de Campos Velho
- 20 de mar. de 2024
- 3 min de leitura
"Seja com Deus como o passarinho que sente tremer o ramo, mas continua a cantar, porque sabe que tem asas.”
São João Bosco
É relativamente frequente que as pessoas falem que meu pai (ou mãe, avô, avó, tio, tia...) tem Alzheimer e Parkinson.... Porém é pouco comum a coexistência das duas condições. A doença de Parkinson é conhecida pela humanidade há milênios. A medicina tradicional indiana, chamada Ayurveda, já a descrevia com o nome de Kampavata (kampa é tremor em sânscrito). O médico romano de origem grega Galeno a descreveu como "Paralisia Agitante". Ele viveu na época da Roma Imperial. Porém foi somente em 1817 que James Parkinson escreveu um ensaio onde pormenorizava os sinais e sintomas daquela que viria a ser conhecida como Doença de Parkinson. Embora existam casos precoces da enfermidade, a maioria dos doentes são pessoas idosas.
O tremor
A característica mais conhecida da Doença de Parkinson é o tremor. O tremor da doença de Parkinson não deve ser confundido com o Tremor Senil (é como é chamado o tremor essencial na velhice). O primeiro é um tremor de repouso, unilateral e que pode ter uma peculiaridade, que é um movimento dos dedos das mãos "em contar moedas". Já o tremor essencial é um tremor de ação (aquela pessoa que treme quando segura uma xícara, por exempĺo), que se acentua com o jejum e nervosismo e pode melhorar com pequenas doses de álcool. O tremor senil geralmente afeta outras pessoas da família.
Manifestações clínicas e tratamento da Doença de Parkinson
A doença de Parkinson também tem uma série de outras manifestações clínicas como rigidez, bradicinesia (uma lentificação dos movimentos), expressão facial empobrecida ("hipomimia"), desequilíbrio e dificuldade de marcha. A pessoa fica com muita dificuldade de andar a medida em que a enfermidade progride e outros problemas podem surgir. Trata-se de uma doença incurável, cujo diagnóstico é clínico, mas para a qual podem ser oferecidos vários tratamentos, como medicamentos, fisioterapia, cuidados fonoaudiológicos, práticas mente-corpo como Yoga e Tai Chi. A abordagem da doença de Parkinson, portanto, é essencialmente multiprofissional. A Estimulação Cerebral Profunda e a neurocirurgia podem ser oferecidas em situações específicas.
Afinal, é Parkinson ou Alzheimer?
Existe uma relação possível entre Doença de Parkinson e Doença de Alzheimer? Sim. A Doença de Parkinson, principalmente quando acomete pessoas mais velhas, pode cursar com dificuldades cognitivas e evoluir para um quadro demencial. É a Demência da Doença de Parkinson. Por outro lado, ao longo da evolução da Doença de Alzheimer, podem surgir manifestações motoras como rigidez e tremor. Estas manifestações são chamadas de Parkinsonismo. É importante sublinhar que a abordagem terapêutica destas condições clínicas é bastante diversa. Um exemplo é que o Parkinsonismo associado à Doença de Alzheimer responde pobremente à terapêutica com a Levodopa - principal medicamento usado no tratamento da Doença de Parkinson, mormente em idosos. Paradoxalmente, a demência da Doença de Parkinson pode ter uma resposta favorável ao uso de anticolinesterásicos, como a Rivastigmina - também usado na Doença de Alzheimer!
Bem, espero que você tenha conseguido entender um pouco melhor a correlação entre estas duas enfermidades. Isso é importante, tanto para os profissionais de saúde como para os familiares. E é muito importante para o paciente, pois o sucesso de seu tratamento poderá depender da capacidade de discriminação diagnóstica entre as duas condições. Em geral geriatras e neurologistas são os especilaistas mais familiarizados com as duas doenças. Este é um capítulo bem delicado de uma subespecialidade chamada Neuropsiquiatria Geriátrica.

A gravura que ilustra o post é formada pela capa do trabalho de
James Parkinson, retratado ao seu lado.
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